segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Viagens vs Stress

Tempo a mais nesta pausa de blog, mas cá estou eu chegada de férias e pronta para mais pedacinhos da minha prole.

Estivemos de férias nas duas últimas semanas. A primeira por casa e na segunda rumamos ao sul de Espanha. Foi bom. Muito bom mesmo. E trouxemos uma pele bronzeada. Quer dizer, pai e filhos a fugir para o preto, mãe mais clarinha, bastante mais, mas dá para ver que abandonou, ainda que por pouco tempo, a palidez que carrega durante todo o ano.

Como já aqui referenciei, num post anterior, as férias com miúdos são cansativas mas muito boas. Eles felizes e nós também. Mas há sempre um mas e no nosso caso há muitos mas e um deles é o horror das nossas viagens. Seja de avião, de carro, ou até a pé só há sossego quando os dois adormecem! até aí é o caos total. Acreditem que nestes textos não encontrarão hipérbole alguma.

Senão vejamos:

Em 2005 decidimos ir para uma localidade de Espanha, longe como o raio, porque o meu querido marido gosta de marcar as férias em cima da hora e nem sempre é fácil encontrar as férias ideais - diga-se local/preço e por isso tivemos de fazer mais de 1000 kms de carro!

E quando se fala de carro de que mais se falará na nossa família??? de más disposições durante a marcha, claro está! De criancinha até agora melhorei imenso pois sofria muito, bastava uma curva e já me custava continuar. E como se herdam principalmente as coisinhas dispensáveis, as minhas crias o que herdaram??? as enjoadelas, pois claro!

Atentos ao que nos esperava decidimos partir após o jantar já que os miúdos adormeciam e com sorte acordavam apenas no destino. Carro carregado, miúdos alimentados e presos nas cadeiras, sacolas com lanches, não vão eles acordar com fome ou sede, e lá vamos. Toda a noite foi de viagem, cansativa, eu ainda dormitei (apesar do meu marido insistir em dizer que dormi... enfim) e muita sorte tivemos pois os miúdos acordaram quase no destino.
Estas férias começaram com um marido irreconhecível. Ficou com febre, cansado, abatido, mas coitado ía a todo o lado, senão ouvia filhos e maezinha. Esteve tão mal que quando cá chegou teve direito a estadia no hospital sem saberem o que seria e a pensarem o pior. Mas afinal o forte cá da casa provavelmente terá sido tocado por um virus transmitido pela cria mais nova, de 15 meses (ainda me estou a rir)!

No último dia o quarto do hotel tem de ser deixado cedo, o que implica de nossa parte a viagem durante o dia. Lá estavamos confinados a uma viagem num carro sem ar condicionado, em pleno mês de Agosto, com cerca de 400 kms de costa espanhola, seguida de entrada pelo Algarve, travessia do Alentejo mesmo a meio da tarde e sempre a subir.

O que se passou nesta viagem foi um autêntico filme de terror. O pai, coitado, com febre, fraco, dores de cabeça fortes. O miúdo porque ao fim de 30 km já estava muito enjoado, a miúda que só ainda balbucinava dava gritinhos e mais gritinhos, porque tinha sede ou calor ou lá o que seria. A mãe completamente stressada e sempre a dizer, ou melhor, a berrar, para se calarem. Claro que o calor só ajudava os disparates dos miúdos. Abre janela, um barulho ensurdecedor, fecha janela um calor doido, e vira o disco e toca o mesmo. Masca uma pastilha para desenjoar, lá implorava eu. Bebe água, continuava. Come uma bolachinha. Pai queres um be-nu-ron? E as músicas que cantávamos?? indescritiveissss! pareciamos dois loucos a cantar para 2 miniaturas que nos venciam kilómetro após kilómetro.

Depois desta viagem juramos a pés juntos que nunca mais viagens assim e que o avião era o ideal.

Dezembro de 2006 resolvemos ir, juntamente com mais 2 casais amigos, a Paris, aproveitando um fim de semana prolongado. Bilhetes comprados numa low cost, hotel marcado e aí fomos nós.

Tudo muito lindo, todos muito contentes e sorrisinhos para aqui e para ali, a apontarmos para os aviões estacionados na pista e qual será o nosso? e se for aquele? que bom que vai ser, e olha aquele a levantar, olha vês que giro! O tempo vai passando e somos chamados para embarcar. Cuidado com os miúdos, levem as mochilas, os casacos? está tudo?? pronto, aí vamos nós. Os sorrisos continuavam, os miúdos graúdos contentes, as mais pequenas um pouco desconfiadas e então a minha ainda mais. Sacos e mochilas acondicionados nos compartimentos devidos, casacos despidos e agora toca a colocar o cinto. Eis quando o meu rosto, até aí também ele a mostrar sorrisinhos, se começa a modificar lentamente acabando num daqueles que nem se sabe o que mostra.... se nervos, raiva, tristeza... mas não. Ele mostrava mesmo era desespero. A miúda implicou que não queria o cinto de segurança. E nada a fazer. Não quero, afirmava ela com uma das características que a vincam demais. A miúda é uma querida, às vezes claro, mas determinada e decidida sempre. Portanto eu estava feita. A minha cabeça já andava à roda, o pai nada fazia, o mais velho tadinho, ainda nos primeiros minutos tentava mostrar as maravilhas de um cinto, preto e gasto, mas a miúda além de manter a dela deu-lhe para gritar! Vergonha, desespero, raiva.... eu já bufava, as minhas amigas tentavam também elas encontrar beleza ou uma historieta qualquer no dito cinto e nada.

A hospedeira, corrigindo, assistente de bordo, chegando perto de nós e com aquele sorriso rasgado, com toda a certeza, obrigado pelo uniforme que ostenta, pede num frances aportuguesado, reparem, eu disse pede, à miúda para colocar o cinto! Pediu aí umas 3 vezes e desistiu. Quem vem a seguir? o comissário de bordo. Todo catita, com o sorriso nº2158, próprio para miúdos ranhosos que não querem colocar o cinto e diz que ela tem de coloca-lo porque o avião assim não pode levantar. E até exemplifica, sempre de sorriso, como se faz. A miúda desata aos berros. A mim só me ocorria tentar abrir a janelinha e pirar-me dali com a miúda e depois deixá-la sózinha, tais eram os meus nervos. Depois queria o pai, depois já queria a mãe, mas depois via dos meus olhos saírem faíscas e queria novamente o pai. Acabou ao meu lado, de cinto posto à força e foi a viagem praticamente toda a soluçar.

Páscoa deste ano, o pai da casa quer conhecer os Açores. Escolhidas 3 ilhas e lá vamos nós. A viagem aérea correu bem, graças a bonecos, livros e psp e nintendo. Vá lá. Alugamos carro e percorremos os locais. Tudo muito verde, muitos campos, muito oceano, e vacas que não acabam mais. Portanto para entreter os miúdos era leva-los aos muitos parques infantis e vê-los felizes, ou po-los a ver vaquinhas! Ah e uma vez levamo-los a ver sair fumo de debaixo da terra.

Do Faial, ilha que gostei bastante, deparamo-nos com o Pico, bastante perto e com ligação diária, via marítima. O pai, entusiasmado, lá decide comprar os bilhetes para a travessia. Eu sem entusiasmo algum já pensando que um barco oscila. Mal entramos fiquei com a certeza que aquilo ia enjoar os miúdos e aqui a mãe. O barco, de porte médio, vinha munido de saquinhos plásticos, que eu avistei logo e tratei de pegar em 2 ou 3. Começa a viagem que demora cerca de 20 a 30 minutos e se no início é muito engraçado olhar pelas janelas redondas, depressa deixa de o ser. Ver a oscilação e o mar sempre a subir e descer é do pior que pode haver. A cria pequena começa com dores de barriga e começo a esfregar-lhe a dita em movimentos circulares. Começa a choramingar que quer o pai. Já no colo do pai, 2 bancos à frente do meu, começo a fazer gestos ao pai para a ir despindo, não vá a rapariga vomitar a linda roupa e andarmos o dia inteiro com uma miúda mal cheirosa. Tirados casaco e camisola e ela cada vez pior, tentando controlar o enjoo que já a mim e ao mais velho começava a incomodar também. Chegamos e nada de vomitado. Nada mau. O regresso correu melhor, o miúdo entreteve-se com desenhos animados e a miúda adormeceu, graças às minhas preces e também às minhas continuadas festinhas nos olhos da rapariga que a obrigavam a cerrar-los até cair no sono. Eu nem enjoei de tão feliz que estava pelo interesse dele e o sono dela.

Este Verão, mais uma vez Sul de Espanha, mais perto, mas muitos kilómetros para eles, claro. Deitaram-se tarde e acordamo-los muito cedo pois assim adormeceriam na viagem. Aconteceu isso, mas não no percurso todo. Sempre a perguntarem quanto tempo falta, e quanto demoraria ainda. E nunca mais e já não aguento. Mas lá se passou e sobrevivemos bastante bem. Verdade.

Regresso, a meio da manhã, e lá começa a cantilena do costume. São os não posso mais, são os enjoos, são os gritos constantes de um e outro que se pegam como cão e gato, é o balão gigante que ela insistiu em trazer e que raspa na perna dele e ele não gosta e começa aos berros, são os olhares de gozo dele que a incomodam a ela, são os calores que os miúdos trazem sempre com eles e pedem mais pauzinhos de ar condicionado, que eu após 1 minuto vou apagando, e que eles reparam de seguida e lá vem a história do calor que não se aguenta. É ouvir um arranque da miúda e vê-la vomitada. Parar, trocar camisola, limpar braços, limpar cadeira. São as nossas vozes baixas que vão ganhando volume contrariamente à nossa paciência. É o desespero que nos consome. É o desejo de vermos a nossa rua. A alegria de vermos o portão a abrir. A felicidade de ouvir o motor do carro silenciar.

Venham mais férias. Que agora só nos falta o comboio.

1 comentário:

Anónimo disse...

Já tinha saudades da tua escrita, realmente é uma faceta tua que desconhecia totalmente e que acho que fazes muito bem. Fazo uns descansos no trabalho para ler o que tens a dizer e divirto-me imenso.
Bienvenida.