Com os dias longos nem sempre há vontade de ir a correr para casa, onde me esperam tarefas que não gosto.
Hoje, foi um desses dias e por isso quando lá cheguei larguei os sacos das compras para um dos lados da minha cozinha quadrada, os legumes saltaram rapidamente para a panela, o peixe para uma outra e a calda do arroz de tomate para outra ainda.
Há que dar banho à miúda que já gosta de se esfregar com a sua mini-esponja-verde e deitar carradas de champoo por ela abaixo, controlar a temperatura e quantidade da água, não a deixar levantar sem ajuda, porque ainda parte uma perna, e depois de pijama vestido e cabelo desembaraçado, graças ao spray cor de rosa, dar-lhe beijos sem fim naqueles braços e pernas cheirosos, enquanto ouço daquela boquinha como correu o dia no colégio.
O mais velho, que adora a bola e acha que se calhar ainda vai ser jogador de futebol, começou num clubeco daqui da zona a dar uns toques e havendo balneários o banho é lá tomado. Espero que se lave bem e não esqueça as orelhas.
Enquanto aguardamos a chegada dos homens da casa, a miúda vai ajudar-me a apanhar a roupa do estendal e aqui começa a história: um passarinho pousado na relva.
Depois de eu ficar a olhar para o animal e a dizer que giro e que fofo, tadinho, será que tem uma pata partida, porque será que se mexe pouco, e talvez tenha fome... dou por mim a pensar e se ele tem uma doença? e se ainda me faz mal? mesmo minúsculo ainda me espeta o bico no tornozelo! até parece que sinto qualquer coisa estranha na minha garganta.... Eu gosto dos animais, mas ao longe. Fobia. De todos. É mais forte do que tudo, sobrepoe-se à razão. Não consigo tocar num animal, por mais querido ou indefeso que seja.
Bem, adiante, mesmo não mostrando à minha filha estes meus pensamentos e sempre a comentar que lindo, coitadinho, deve estar doentinho, a rapariga também não se chegava lá muito perto. Melhor assim, porque se fosse daquelas que fosse pegar no pássaro era ela com o bicho num lado e eu num outro aos saltinhos. Aguardemos o pai, disse eu; está bem responde ela.
Já andava eu à volta da roupa e chega aos meus ouvidos a vozinha da miúda - disseste que podia ter fome, não é? vamos buscar pão, está bem?? Ai a minha vida, lá vou eu ter de estar muito perto do passarinho. Bem vou buscar o pão...o pedaço que trouxe era maior que o animal, mas mesmo assim atirei-o em vez de delicadamente o pousar. Mas nem se aproximou para depenicar. A minha filha aguardava impacientemente a chegada do pai para lhe contar e também, arranjar umas mãos que agarrassem na ave e lhe dessem um abrigo.
Quando estou prestes a terminar de apanhar a roupa, outro passarinho a tentar voar! e mais perigoso, pois o raio do bicho dava saltinhos e voava um pouco. Era ele a saltitar de um lado e eu a esgueirar-me para outro lado.
Andamos as duas a controlar os pássaros. Resolveu-se tudo quando o avô chegou, apanhou os animais, e colocou-os onde se pensa que haja um ninho. Eles são tão pequeninos que ainda nem se alimentam sózinhos!
Para me redimir peguei no restante pão e andei feita tola e espalhar migalhas pelos arbustos.
Shame on me...
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6 comentários:
Que figureta!!! Mas eu acredito bem na história.
O pai cá de casa.
Todos temos defeitos....
Sim, que acto tão bonito e doce de quem so gosta de animais ao longe... o meu caso é de gatos que eu detesto nao posso contar a minha história, fica para um dia.
Eu não sabia é que tens muito jeito para escrever.Dou-te os meus PARABÉNS.
Ahahahahahha
Quero ouvir a história dos felinos:p
Pobres pássaros...
Eles sim devem ter passado momentos de verdadeiro pânico!
Que engraçadinho Alfareco!!!
Até quero ver o que poderás engendrar para livrares os pássaros de tal pânico.
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